Ovo de Páscoa - Dividir ou não dividir? Eis a questão!
Ela não quis dividir comigo. Azar o meu, que quis comer todo o meu chocolate de uma vez. Se ela teve disciplina para degustar só um pouquinho por dia, o mérito era dela.
Na Páscoa, existem dois tipos de pessoas: as que ganham um ovo de chocolate e comem tudo no mesmo dia; e as que ganham um ovo de Páscoa e, no Natal, é capaz do maldito ovo ainda existir. Geralmente, esses dois perfis formam um "lindo" casal.
Eu sou do tipo que, se ganho um ovo de Páscoa hoje, três dias depois ele já terá deixado de existir há mais ou menos três dias.
Ano passado, ganhei um ovo de Páscoa carérrimo, da melhor marca. Levei para casa e, naturalmente, sem titubear e com enorme prazer, dividi com a Joana – minha esposa, meu amor. Entreguei uma metade inteira só para ela. Fiquei pleno. Tanto por comer um chocolatinho delícia que tanto amo, como também por estar com aquele sentimento bom de quem fez algo legal pela pessoa amada. Joana, que também gosta de chocolate, ficou muito feliz com a surpresa e com o carinho da minha parte.
Veja bem, todo mundo ficou feliz com a minha atitude. Até aquele momento (que chamaremos de “Dia 01”, para fins didáticos), eu havia gerado harmonia, amor e bons sentimentos no nosso relacionamento. Mas nem todos os finais são felizes.
Como crê a milenar filosofia tradicional chinesa, há dualidade em tudo que existe. O bem e o mal são forças opostas e complementares que se encontram em todas as coisas do universo – inclusive no meu delicioso e caro ovo de Páscoa.
Como de costume, passados três dias (no Dia 03), minha metade do ovo de chocolate já tinha deixado de existir há mais ou menos 48 horas. A parte da Joana permanecia quase intacta, não fosse uma lasquinha que ela havia tirado para experimentar no primeiro dia. Fiz menção de pegar um pedacinho do chocolate que restava, mas fui repreendido e avisado para não tocar no chocolate dela, que estava sendo guardado para depois.
Após um mês sem resquício de ovo de Páscoa para mim, eu já estava com ódio da longevidade daquele maldito chocolate delicioso – que outrora fora meu, mas que, por amor, eu dera para Joana. Não suportava mais viver com tamanha tentação na minha própria casa. Que mundo injusto é esse em que existe ônus para um ato de amor e generosidade?
Poxa, 50% do chocolate que eu tinha no "Dia 01" compartilhei com a Joana. Agora, pergunta se ela dividiu 50% do chocolate dela comigo no "Dia 30". Claro que não. Afinal de contas, azar o meu, que quis comer tudo de uma vez. Se ela teve disciplina para degustar só um pouquinho por dia, o mérito era dela. E ai de mim se ousasse encostar no seu precioso e exclusivo chocolate.
As estatísticas não mentem: 100% dos dias em que eu tive chocolate dividi metade com o amor da minha vida; 0% dos dias em que Joana teve chocolate dividiu comigo – o dito amor da vida dela.
Quem diria que a Páscoa, uma época tão doce, fosse capaz de trazer tanta amargura para o meu relacionamento?
Se curtiu a crônica, é porque ainda não leu…
Curtiu esse texto? Então, acho que vai adorar outra crônica minha – também sobre relacionamento:
Crônica - Não era amor, era cilada!
Minhas últimas…
Segue o que tenho feito nessas últimas semanas.
O que estou estudando?
No Curso Formação de Escritores, iniciei o módulo “Oficina do Subtexto” com a premiada escritora Cíntia Moscovich. O foco será a escrita e análise de contos. Para mim, o conto é o gênero narrativo mais desafiador. É o supra-sumo da escrita.
Também estou estudando italiano. Já havia começado algumas vezes, mas agora retomei com gosto. Estou empolgado.
Como o italiano é a quarta língua latina que estudo – falo português, espanhol e francês –, tenho facilidade para assimilar algumas coisas que seguem a mesma lógica do francês, outras do espanhol e do português.
Por outro lado, vira e mexe ainda me embaralho com os idiomas – principalmente com os artigos e pronomes.
Terminei…
Finalizei a leitura do “Escrever Ficção - Um manual de criação literária”, do Luiz Antonio Assis Brasil. Nota 12 de 10! Muito completo e didático. Sem dúvidas, o melhor livro sobre escrita literária que já li.
Estou revisando o livro e finalizando o meu resumão.
Outra dica de livro sobre escrita:
Aproveito e indico outro livro fantástico sobre escrita criativa: “Escrita em movimento - Sete princípios do fazer literário”, da Noemi Jaffe.
O que eu adoro na proposta da escritora é que ela traz princípios simples, porém muito assertivos, que me fizeram compreender a lógica por trás de algumas decisões de escritores consagrados em suas obras e, claro, me ajudaram muito na escrita.
Últimas considerações
Meu último post (Crônica - O melhor presente da vida) foi o texto com o maior número de visualizações do meu Substack.
Estou muito feliz com cada progresso de formiguinha por aqui. O ritmo no Substack é muito mais lento, comparado a outras redes sociais. Por outro lado, gosto de lembrar algo que escutei do professor André Argolo, na minha pós-graduação – não lembro exatamente, apenas da ideia –: “Hoje em dia, tudo está mais acelerado. Mas o tempo que levávamos para ler um texto há dois mil anos continua sendo o mesmo que levamos para ler agora. Isso não mudou.”
É incrível saber que você está aqui, lendo e dedicando um tempinho da semana para se divertir com minhas crônicas.
Muito obrigado mesmo.
Eu sou a Joana do chocolate kkkkkk e ela tem meu apoio!
Muito bom, Dan. Continuarei acompanhando por aqui e no curso. Ah, e eu sou você no chocolate, só que sem a paciência de não roubar uns nacos na geladeira, armário ou esconderijo... eu encontraria, com certeza e desfaçatez.