Cada um fica bêbado com o que quiser
Não foi a primeira vez que sofri bullying por conta das escolhas dos meus suaves pileques. Fico bêbado com o que eu quiser e ninguém tem nada a ver com isso.
O garçom chegou e fizemos nossos pedidos: meus amigos pediram um balde de cervejas para dividirem, e eu escolhi um caipisakê de frutas vermelhas. Para quê? Virei chacota. Não foi a primeira vez que sofri bullying por conta das escolhas dos meus suaves pileques.
Fico bêbado com o que eu quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Não sei se é politicamente incorreto dizer, mas digo porque é verídico: tenho um paladar infantil para bebidas alcóolicas. Calma, eu não comecei a beber drinques na infância. Pelo contrário, fui tomar meu primeiro porre com 24 anos de idade, e somente porque minha namorada da época insistiu em me conduzir numa maravilhosa viagem ébria. Foi uma noite muito boa, até ficar ruim.
Talvez por não ter calejado meu gosto alcoólico na adolescência, tenho uma predileção por bebidas mais doces: um caipisakê de abacaxi, licor de marula, caipirinha, mojito, vinho, pisco sour… Resumindo: gosto de bebidas gostosinhas. O que não é tão óbvio, já que tem gosto para tudo. Por exemplo, alguns preferem beber uísque sem gelo, outros uísque com gelo. Eu prefiro gelo sem uísque.
Pontualmente, me entrego à cerveja. Na maioria das vezes - quase na totalidade -, bebo por conveniência e motivos estratégicos. É que a cerveja é de fácil nivelamento social. Diferente do vinho: que escancara o poder aquisitivo e classes sociais de cada um.
Você é convidado para um jantar e, preocupado em causar uma boa impressão, compra um vinho com um valor acima do que está acostumado. Investimento na sua imagem pessoal. No evento, se acanha ao perceber que alguns levaram vinhos cinco a dez vezes mais caros que o seu. Bebida segregadora.
Mas ao ser convidado para um churrasco, qualquer cerveja vai bem (tirando as popularmente odiadas). A pessoa que leva uma cerveja mais cara e distinta é vista como uma excêntrica apreciadora, e não uma representante da alta sociedade. A cerva não apequena ninguém. É agregadora, por isso dou o seu valor, bebo e tolero me inchar como um baiacu.
Algumas bebidas beiram à unanimidade. Mas até essas exigem o contexto adequado.
Ninguém desgosta de tequila. A graça é justamente o ritual festeiro da bebida. Por isso não se aprecia uma tequila sozinho em casa, à luz baixa, ao som de uma bossa nova. Tequila é festa, é sacudir a cabeça, é sal, limão, careta, alegria, arriba, abajo, al centro y adentro! A madrinha que levar uma garrafa de tequila para a despedida de solteira pode salvar o dia da noiva e tirar o evento da não-desejada monotonia.
Por outro lado, a tequila não é a primeira opção de presente para conhecer seus sogros. Pode causar uma impressão errada. Opte por um vinho, que é facilmente aprovado por sogros, flertes, anfitriões, chefes e até padres.
A circunstância é importante para a escolha mais estratégica. Naquela noite, no bar, eu poderia facilmente ter evitado a gozação - até o garçom gargalhava com meus bullies. Qualquer desculpa boba me pouparia. Mas fui menino. Me nivelei à minha maturidade alcoólica. Sem poder recuar, tentei sair pela tangente: "Lembrei que estou tomando remédio. Amigão, vou querer somente um suco de morango, por favor." O garçom se abaixou, como quem fala com uma criança, e me perguntou com o riso escapando da boca: "Com leitinho?"
Em meio às gargalhadas, eu deveria ter juntado o pouco que restara da minha dignidade, convidado o garçom para sentar no meu lugar com seus novos amigos e servido a eles um balde de cervejas geladas.
Gostou da crônica? Então te sugiro outra: Crônica - Vinhos para idiotas
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Gostei! Entre as bebidas, eu vou de tequila!
hahaha. Excelente!! Comecei me julgando por ser o cara que faz o bullying, depois me surpreendi com a comparação do vinho x cerveja que faz todo sentido e, por fim, foi demais imaginar o quase amigo garçom no hipotético final sendo servido!!